A psicanálise tem agora de se expandir para campos mais vastos do que aquele em que nasceu, e deste ponto de vista o bebé surge como uma hipótese para o seu futuro.

Independentemente de alguém aderir ou não às conquistas da psicanálise, os ataques contra ela são, na verdade, ataques contra os cuidados psicológicos, contra as ciências humanas e, em última análise, contra a liberdade de pensamento. Por isso, é importante ser extremamente vigilante a este respeito. Dito isto, se a psicanálise continua a ser epistemologicamente muito moderna, tem agora de se expandir para campos mais vastos do que aquele em que nasceu, principalmente o campo da neurose do adulto.
Deste ponto de vista, o bebé surge como uma oportunidade para o futuro da psicanálise. Os novos conhecimentos sobre o desenvolvimento psicológico inicial dos seres humanos – aquilo a que por vezes se chama psiquiatria infantil – fornecem-nos novos caminhos de reflexão, particularmente em relação ao destino do original, ao surgimento do objecto e à representação dos laços com o objecto.
A neotenia humana, o lugar central do corpo na criança muito pequena, bem como a epigénese, permitem-nos, assim, pensar numa psicanálise capaz de se desenvolver para além do clássico e muito diferenciado casal sujeito e objecto.
Estas considerações essenciais no domínio da perinatalidade levam-nos, por um lado, a revisitar de forma mais geral – incluindo entre adolescentes e adultos – as questões da exigência, transferência e interpretação dentro dos nossos sistemas terapêuticos e, por outro lado, a enriquecer as nossas reflexões sobre os processos de formação.
O bebé, uma oportunidade imperdível!

Bernard Golse